Sem categoria

Slip sliding away, Slip sliding away
You know the nearer your destination
The more you’re slip sliding away
(Paul Simon)

Esse refrão da música Slip Slidin’ Away, de Paul Simon, esteve em minha cabeça durante toda a manhã, num dia qualquer no início de fevereiro. Era uma das manhãs em que tentava colocar a mente racional a trabalhar na agenda de produtos e serviços a serem oferecidos pela @Conexão IE, em um 2021 que insiste em não começar e agora em que até o feriado de carnaval nos foi subtraído como marco de início de ano.

Demorou um tempo para eu perceber que era mais uma daquelas mensagens que o inconsciente nos fornece em insights encriptados, que uma vez traduzidos produzem aquele aham para promover sentido ao que nos acontece. São pop ups cognitivos, mensagens não solicitadas, disponibilizadas pelaa mente rápida e intuitiva, que guarda significados para expandir nossa consciência, guardados em imagens, símbolos e metáforas. Sim, o papo aqui é entre sistema 1 (mente intuitiva) e sistema 2 (mente racional), como explicaria o famoso neurocientista Daniel Kahneman. Ok, então vamos lá e já que estou aqui escrevendo esse artigo, vou aproveitar para fazer um download dos conceitos que estão orbitando a questão.

Para começo de conversa, a tradução da expressão idiomática desse refrão não é nada simples. Se você colocar no Google vai receber um “escorregar deslizando para longe” como resposta para o título da música. Uma melhor definição seria “seguir em frente”, “vida que segue” ou quem sabe #tatudocerto, de sossegado mesmo, em relação à atitude ideal frente às dificuldades e incertezas do caminho a frente.

O problema é que para a maior parte de nós a vida não está nada parecida com o parque de entorno da moça em rollers. O chão também não é tão firme sob nossos pés. Aliás, se estamos “slip sliding”, a ideia seria mais ou menos como desse vídeo incrível de um patinador em um lago congelado disponibilizado pela National Geographic, cujo print ilustra a capa desse artigo.

Que tal patinar sobre um gelo finíssimo, de 5 cm de espessura, em alta velocidade? É preciso planejamento, técnica, precisão de movimentos. Ainda assim é bonito de ver, dá uma certa aflição e ao mesmo tempo passa uma tranquilidade, não? Da mesma forma, é inspirador presenciar o trabalho de pessoas que seguem em frente, abraçando a incerteza e a vulnerabilidade, porém com confiança de que tudo vai dar certo. Às vezes parece que estamos todos vivendo assim, não é mesmo? Seguindo adiante num mundo VUCA, TUNA, BANI… escolha você a combinação de letrinhas, mas todas falam de incerteza e vulnerabilidade. Todas nos convidam a lidar com o MEDO do futuro e do que não podemos controlar.

Por já termos vivido outros momentos de incerteza, sabemos que a melhor maneira de se livrar de um medo é sobreviver a ele, um dia de cada vez. Se formos valentes, até mesmo refletir sobre ele, aprender com ele. E então, com a certeza de nossas forças, seguir em frente. Essa é uma boa definição de coragem, certo? Seguir em frente, ainda que temendo cada passo adiante, retirando algo positivo desse movimento. E se por acaso o gelo quebrar e tomarmos um banho de água gelada? Saímos da água, de preferência com ajuda de amigos, aprendemos onde erramos e tentamos de novo, agora mais experientes do que antes.

Ok, então precisamos ser corajosos, seguir adiante em meio ao risco e vulnerabilidade. Brené Brown nos ajuda a entender isso. Fica aí a dica de seu mais novo documentário na Netflix. Mas a música de Paul Simon não para por aqui e traz algo assim: “você conhece melhor seu destino na medida em que segue adiante” (You know the nearer your destination, the more you’re slip sliding away).

Esse trecho do refrão fala diretamente com minha mente budista e pede para vivermos um dia de cada vez, confiando no amanhã.

Entenda que isso nada tem a ver com conformismo. Muito menos negar nossas dificuldades. Trata-se apenas de reconhecer que na vida há incerteza, caos e sim, sofrimento. E como sempre digo em nossos cursos de inteligência emocional: podemos sofrer muito mais em nossa imaginação do que na realidade, não é mesmo?

Por isso a importância de treinar a mente para que ela saiba de seus humores e pensamentos. Para que possamos ter consciência da lente que usamos para interpretar os fatos e palavras dos outros. Assim também para construir nossas palavras.

Porque o único lugar em que há controle é no agora. E tudo bem se erramos: vencer as dificuldades e corrigir rumos faz parte de nosso processo de aprendizado e crescimento. Afinal a “ausência de luz pode ser uma parte necessária” em nossa trajetória de vida, como lembra a música 93 Million Miles de Jason Mraz.

“Oh, my irrefutable father:
he told me son sometimes it may seem dark,
but the absence of the light
is a necessary part.”
93 Million Miles – Jason Mraz

Música aliás, que nos lembra a nossa distância do Sol (93 milhões de milhas), o que me leva a outra metáfora: a carta da Temperança, do tarô. A temperança é representada por um anjo com um pé na água e outro na terra.

Atrás dele há uma estrada que leva a um Sol com coroa. Nas mãos ele tem duas taças. Uma representa o passado e a outra o futuro. No movimentar de uma e de outra o líquido que há entre elas é a própria existência humana. Isso porque a vida é o que acontece no meio dessas taças. A vida é AGORA.

A taça do passado nos ajuda a saber quem somos, o que nos traz aqui. Por outro lado, somos totalmente responsáveis pelo nosso eu-futuro, já que as escolhas e ações de hoje constroem esse amanhã. Então assim, com um pé na vida inconsciente e fluida como água e outro pé na realidade dos fatos e eventos conseguimos esse delicado equilíbrio da temperança. Que também significa autocontrole e autoconsciência, habilidades emocionais tão essenciais.

E depois dessas metáforas todas, a mente racional pede consenso, uma linha mestra para que tudo se conecte. Afinal, como assim? Ora, dá para dizer que todas essas imagens tem a ver com a necessária capacidade de balancear nossa relação com o mundo: o que é nosso e podemos controlar, o que não é nosso, e não podemos atuar. Dilemas cotidianos, sabe? O que precisa ser feito hoje, o que pode esperar. O que é necessário, o que não é. O que é escolha, o que é destino. No que devo persistir e no que não faz sentido permanecer. O que é meu, o que é do outro? A todo momento vivemos esse intercâmbio de trocas, nessa tensão dos opostos. E balancear essas forças é uma arte, um jeito de viver, sem dúvida. Como já prevê o símbolo yin-yang da filosofia chinesa, fechando a última analogia até aqui.

E desse carnaval de métáforas, entendi que precisava costurar tantas reflexões com o momento que vivemos na @ConexãoIE. Vivemos coletivamente um tempo de transição e realinhamento de rota e não poderia ser diferente em nossos projetos por aqui.

Assim, de forma leve, muito ao estilo slip sliding, deixamos para traz a série Papo de IE, que acontecia nos dias 10, 20 e 30 de cada mês. Por vários motivos, da agenda de trabalho que começa a se normalizar ao excesso de lives e estímulos nas redes sociais, Nesse começo de 2021, esse ano pós-pandemia-e-com-vacina-em-distribuição em que não tivemos carnaval, precisamos sim de um tempo para processar tantas conversas incríveis que compartilhamos no decorrer de 2020, o ano em que pensamos mais sobre nossa existência e nossa própria humanidade do que qualquer outro. Processar o aprendizado é tão fundamental quanto continuar trazendo renovando ideias, por isso pretendemos resumos e compreensões durante nossa programação de 2021.

No compromisso com o propósito de #maisIEnomundo mantemos o Arena IE como espaço de trocas e reflexões sobre nossos embates cotidianos, trazendo contexto para as tantas competências socioemocionais que o mundo nos solicita, no trabalho e vida pessoal.

Temos também a atuação do @programauma que estamos apostando nossas melhores energias. Assim, eu e @BibianaZereu construímos um programa de formação de mentoras e também uma consultoria para empresas que buscam implantar programas de mentoria em seus espaços, ao mesmo tempo que estamos avançando para nossa terceira turma aberta de mentoras.

E novas parcerias estão no forno com cursos online em mares nunca antes navegados e até mesmo a incubação de um instituto para lidar com emoções, mas essas novidades ficam para outro artigo.

Comparando nossa agenda de 2019 e 2020 com o que estamos programando em 2021, dá um certo friozinho na barriga, pois as incertezas são grandes. Mas encaramos o novo de espírito aberto. Que venham novas metáforas, mentoras e impulsos a seguir em frente.

E você, que mudanças se dispõe a fazer em sua vida pessoal e profissional para 2021? Com tantas incertezas pela frente, nada melhor do que seguir “Slip sliding away”. 😉