IE no Trabalho

Mesmo as pessoas mais resilientes possuem um limite para a quantidade de estresse emocional com a qual conseguem lidar. Todos nós temos capacidades diferentes de absorver o impacto emocional causado por vieses que se apresentam em nossas vidas. Nas últimas semanas, essa capacidade tem sido testada diariamente em nós gaúchos, independente da área em que atuamos e do quão perto estamos do lodo e dos alagamentos. Isso porque estamos chegando no limite dessa reserva emocional, que nos mantêm ativos em face às adversidades. Na Conexão IE temos nos preocupado, ao longo dessa tragédia, em prestar auxílio aos cuidadores e líderes de pessoas, orientando sobre o melhor uso de nossos recursos emocionais. É nessa direção que segue esse artigo.

Antes de iniciar minha análise, quero brevemente prestar agradecimento ao professor Daniel Goleman, grande influenciador e mentor de ideias da Conexão IE, que explorou em 2015, juntamente com Peter Senge, uma nova abordagem para a educação humana nomeada O Foco Triplo. Entendo que esse mesmo conceito pode ser aplicado para o momento que estamos vivendo no Estado e nos traz inclusive uma abordagem emocionalmente inteligente, de atuação responsável.

No início do milênio trabalhei com responsabilidade social empresarial (RSE) e penso que agora estamos começando a atuar com algo que nomeei de responsabilidade emocional. Esse tipo de responsabilidade requer uma administração consciente e criteriosa de nosso capital emocional e é melhor potencializada quando nossa ação se organiza em torno de três focos: em si, nos outros e contexto de entorno.

O primeiro foco é em si mesmo: independentemente de seu grau de resiliência, poupe sua reserva emocional. Na medida do possível, fique atento e reconheça seus limites. Busque descansar, alimentar-se bem e manter um mínimo de período de sono. Acima de tudo: não menospreze o impacto emocional que a dor do outro provoca em você. Ao se sentir emocionalmente abalado, não tente buscar o equilíbrio sozinho(a): converse com alguém, busque também apoio emocional. Pode parecer egoísmo ou até cinismo esse primeiro foco em si mesmo, porém é importante lembrar que nossa reserva emocional é escassa e precisamos conseguir mantê-la nesses tempos de crise. Caso contrário, também iremos sucumbir e ao invés de estarmos aptos a auxiliar os outros seremos nós quem precisaremos de auxílio. Porque somente quando nos sentimos abundantes em recursos emocionais (bem supridos em nossas próprias necessidades) é que podemos prover para outras pessoas, com qualidade, amor, entrega virtuosa.

O segundo foco da responsabilidade emocional é o cuidado com os outros. Ao prestar auxílio a quem quer que seja – a começar pelos entes queridos e vizinhos – temos que lembrar que essas pessoas já estão fragilizadas, tomadas por sentimentos de humilhação, culpa, raiva, medo, profunda tristeza e tantas outras emoções, todas embaralhadas e confusas. É preciso atuarmos com compaixão e empatia extremas. Por mais bem intencionados que estejamos, devemos utilizar abordagens que não ampliem ainda mais o impacto emocional nas pessoas que propomos auxiliar.

Uma vez estabelecido o duplo foco, chegamos na sua extensão, que é a clareza de percepção do mundo mais amplo, que inclui nosso próprio histórico pessoal em relação ao que nos cerca e também um pensamento sistêmico em relação aos acontecimentos. Às vezes nos deparamos com tragédias tão grandes que temos dificuldade de encontrar sentido nas experiências que testemunhamos e isso pode dificultar nossa regulação emocional, principalmente se alguns gatilhos de nosso histórico de vida forem disparados nesse processo.

Também importante: afaste-se do que infelizmente estamos presenciando nas redes sociais. A tragédia humana não deve ser tema para brigas políticas, ideológicas, busca de engajamento e promoção pessoal por influenciadores sociais e narcisistas de plantão e outras coisas do gênero. Pode parecer que não, mas esses comportamentos imorais também drenam nossas emoções.
E reunindo tudo que comentei aqui trago um resumo de nossos últimos conteúdos nas redes da Conexão IE, em que exploramos como manter nossa reserva emocional, evitando que chegamos a fase de burnout emocional:

Fadiga emocional – O excesso de preocupação com os outros sob nossa responsabilidade pode provocar fadiga emocional, o que ocorre quando chegamos ao fim de nossas reservas e não conseguimos mais sermos viáveis em qualquer tipo de atividade. Eu e a Alessandra Gonzaga, Ph.D. exploramos esse tema no episódio 77 de nosso podcast Arena IE.

Resiliência – Pessoas com maior resiliência conseguem recuperar suas reservas emocionais mais rapidamente. Ao serem exigidos emocionalmente, essas pessoas possuem maior habilidade de recuperação. Falamos sobre isso no episódio 64 do podcast Arena IE, em que exploramos essa competência.

Empatia em tempos de crise – Recomendo a você que está trabalhando nos esforços de acolhimento, recuperação e reconstrução aproveitar o momento de seu descanso e assistir ao episódio 76 do Arena IE.

Responsabilidade emocional – Já começamos a explorar esse tema em nosso último episódio 78 do podcast Arena IE: responsabilidade emocional. E sobre o contexto que vivemos no Rio Grande do Sul e formas de exercer essa responsabilidade, recomendo o artigo “Qual é teu barco?”, de Alessandra Gonzaga, Ph.D.

Por fim, atuando nos três focos de maneira integrada, busque métodos para reabastecer sua reserva emocional. Como muitas de nossas atividades rotineiras de conexão social, lazer e promoção de bem-estar estão fora de nosso alcance no momento, nossa recomendação na Conexão IE é que você busque se abastecer em sua conexão espiritual, qualquer que seja sua fé, crença, orientação religiosa.

Nosso povo brasileiro tem enfrentado diversas crises, mas nesse momento, o Rio Grande do Sul passa pela segunda cheia consecutiva no intervalo de menos de um ano. Não sabemos quanto tempo esse episódio ainda vai durar, mas quero acreditar que, quando terminar, o aprendizado será enorme. Já está sendo possível ver, ainda que estejamos no meio de muita dor e sofrimento humanos, a chuva de bênçãos que começa a cair nas cidades e localidades ao nosso redor. Isso pela força emocional de um povo, que percebe que é na união e solidariedade que encontramos esperança para dias melhores. Quem sabe o exemplo dos gaúchos sirva, como diz o Hino do Rio Grande do Sul, de modelo a toda a Terra.

Venceremos juntos essa crise, a partir de valores sólidos que nos levarão em segurança para um futuro melhor. Na Conexão IE, que completa hoje 16 anos de existência, esses valores são vencer, amar, aprender e expandir e explicamos cada um deles em nosso novo vídeo institucional. Nosso agradecimento aos meus irmãos gaúchos, colegas de trabalho e clientes: cuidem-se, cuidem daqueles que puder ajudar e observem o mundo mais amplo.