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Eu tenho pressa, tanta coisa me interessa. Mas nada tanto assim. (Kid Abelha)
A música é dos anos 80 e nunca foi tão atual. Vivemos em uma era paradoxal, em que tudo se move com tanta pressa: as novidades da IA, as mensagens entre as pessoas, os ciclos de aprendizagem, as reuniões do dia. Enquanto isso, o clima traz um certo elemento de caos para combinar com a paisagem: saímos das inundações no Sul para os incêndios em grande escala e chuva tóxica. E, por trás de tanta agitação, mudança e incerteza, há uma contra-tendência um tanto silenciosa, ainda que abrangente: a estagnação. Em diferentes setores da economia, reuniões são adiadas, projetos perdem a continuidade, pessoas cancelam compromissos por estarem exaustas. É como se faltasse fôlego para continuar ou quem sabe uma competência socioemocional cada vez mais rara, a constância de propósitos. O que explica essa falta de vontade e interesse? O que nos impede de permanecer em um único alvo atencional? Por que parece que estamos sempre em movimento, mas raramente temos a percepção de progredir?
“É muita iniciativa e pouca acabativa” diz um cliente muito antigo meu, sempre que falamos sobre seus projetos. Percebo que nem de longe a leitura dele é uma percepção isolada e que o excesso de soluções tecnológicas pode estar nos afastando de algumas condições essenciais e analógicas para garantir a produtividade ou a sensação de completude de um trabalho finalizado.
Aqui nesse artigo analiso algumas narrativas mentais que contribuem para essa sensação de esforço intermitente e motivação aos soluços e trago algumas ideias para ampliarmos o espaço entre uma novidade e outra. Comecemos então pelo que está nos atolando.
- EXCESSO DE CANAIS – As demandas chegam por e-mail, whatsapp, mensagem direta (DM), chat do Teams, reuniões, quem sabe até por telefone de mesa. Temos uma certeza: as pessoas vão nos achar. E quando acharem, algo será pedido, um texto precisará ser lido, algum arquivo precisará ser enviado. Toda troca vai implicar em pequenas tarefas e cada pequena tarefa trará múltiplos atores envolvidos. Sim, pois o que fazemos tende a ser colaborativo, o que traz mais interações e mais tarefas.
- EXCESSO DE TAREFAS – Elas são simples (com tanta tecnologia!), porém muitas. Responder mensagens de colegas, garantir retorno a quem pede urgência, dar uma lustrada na imagem pessoal entre uma curtida e outra nas redes sociais. Seja em interações reais ou nas trocas virtuais, estamos com grande backlog de tarefas sendo continuamente atualizado em nossa tela mental e nas múltiplas telas de nossa vida conectada. Na mesma velocidade com que vídeos são carregados para trazerem novas dicas de performance estamos nós sendo carregados por novas demandas. Ouvir um áudio, enviar um link, intermediar um grupo, agendar, reunir, comentar. A máquina de fazer coisas não pode parar.
- EXCESSO DE ENVOLVIDOS – Se são muitas tarefas, em muitos canais de troca, muitas são as pessoas compartilhando ideias. Trabalhamos em múltiplas pequenas redes, algumas em nossas próprias áreas de atuação e tantas outras em possibilidades paralelas: projetos de melhoria, programas de desenvolvimento, interfaces com outros setores. Outro fenômeno interessante é a multiplicidade de públicos em uma mesma rede social. Lá onde você compartilha a vida com seus colegas estão também seus ex-amigos, colegas do ensino médio, parentes de final de ano ou desconhecidos que um dia disseram algo interessante e você seguiu.
Sim, parece que há um fio condutor que nos mantém enredados e tem a ver com o EXCESSO: em canais, em tarefas, em pessoas envolvidas. Cada um desses excessos produz uma redução da potência de ação, absorvendo tudo ao redor como as grandes massas e os conglomerados de energia fazem. É como se cada um fosse um planeta de demandas atencionais, que nos mantém sempre ocupados (figura abaixo). Sem falar nos outros “planetinhas” que nos ativam a atenção: a última dieta da moda, a mais recente briga política, as últimas notícias sobre o clima. Isso pode explicar os adiamentos nas entregas. E a sensação de absoluto cansaço ao final de um dia de trabalho, mesmo que se tenha a percepção de muito pouco avanço nos projetos que havíamos, um dia, pensado serem os prioritários.
ECOSSISTEMA DE DEMANDAS ATENCIONAIS
![DEMANDAS ATENCIONAIS - ANSIEDADE](https://conexaoie.com.br/wp-content/uploads/2024/09/DEMANDAS-ATENCIONAIS.png)
Fonte: Elaborado pela autora
Ok, então nossa mente produz essas grandes demandas de atenção, que consomem nossa energia cognitiva e nossa capacidade de agir de forma contínua. Talvez isso explique tantos adiamentos de projetos, a sensação de estar “patinando” que tenho ouvido de alguns clientes.
Como a inteligência emocional pode nos ajudar?
Bem, algumas saídas são muito simples e vão no sentido de reduzir a força desses diferentes “planetas”, na intenção de esvaziar tanto tempo, energia e atenção que eles absorvem.
- FAZER NADA – A solução de ficar off line sempre aparece em meus artigos e nesse não é diferente. A diferença seja de que talvez eu esteja aceitando muito pouco desse tempo. E uma caminhada após almoço ou um descanso de 10 minutos com alguma música suave ou olhos fechados (melhor ainda!) já contam também. Isso conta como fazer nada? Sim, porque o mais importante é conseguir espaço para desligar notificações, conectividade e esforço. A intenção é deixar A MENTE ser capaz de lidar com o “fazer nada” por alguns instantes. O descanso é da necessidade de responder e ponderar.
- CONEXÕES EM TEMPO REAL – O tempo das interações com as pessoas precisa ser por algumas vezes síncrono, ainda que o trabalho seja remoto. Melhor ainda se puder também ser presencial. Porque na interação on line a possibilidade de poder adiar uma resposta ou de deixar uma tarefa “pendurada” acaba por nos deixar sempre empenhados em interações futuras, ainda que tenhamos acabado de tê-las. Por outro lado, resolver as demandas em tempo real – ainda que por alguns minutos – diminui o ciclo de rolagem contínua das entregas.
- COMEMORAR CHEGADAS – Somos evolutivamente atraídos por novidades e, mesmo no campo das ideias, sentimos nossas energias se renovarem sempre que acessamos conexões originais de ideias ou conceitos melhor explicados e aplicados. Porém precisamos fazer um certo esforço em comemorar pequenos ganhos e chegadas. Uma pergunta boa de se fazer ao final de cada dia é: qual foi a melhor tarefa que cumpri hoje? Tive alguma conquista pessoal? E quando foi que me senti melhor?
Por coincidência, termino esse artigo compartilhando uma comemoração. Alcancei hoje o título de Top Voice Emotional Intelligence no Linked In. Sem dúvida, foi uma conquista construída em pequenas inserções, dezenas de artigos e centenas de turmas de desenvolvimento e mentorados executivos nos 16 anos de atuação da Conexão IE, pelo que sou muito grata. Paradoxalmente, esse selo exigiu de mim e das pessoas que trabalham comigo adaptabilidade às mudanças e, complementarmente, uma contínua curiosidade pela inteligência emocional. Algo como um planeta de vontade permanente, que alimenta sentimentos, ações e um “tanto assim” de interesse. E você, pelo que vai se interessar (ou recuperar conexão) daqui em diante? 😊