Reuniões, notícias e a voz que nos resgata do caos

“A mente consciente é como um barquinho no mar. O inconsciente, esse sim, é o oceano.” — Carl Jung
Na semana passada, ao conversar com líderes de uma grande organização, fiz uma pergunta simples: Quantas reuniões vocês têm por semana? A resposta: em média, 8 por dia. Cerca de 40 por semana. 160 por mês! Isso não é agenda, é um colapso silencioso. Chamamos de produtividade o que, muitas vezes, é apenas hipervigilância: o medo de não estar presente, de perder algo, de não ter controle. No fundo, é o iceberg emocional emergindo. Porque o que está visível – prazos, entregas, metas – costuma esconder o que está invisível: a ansiedade, o cansaço crônico, a perda de sentido.
Vivemos em tempos de guerra: não apenas geopolítica, mas também informacional. As redes que antes informavam hoje nos afogam. É difícil saber o que é fato, o que é narrativa, o que é manipulação. E isso não fica do lado de fora das empresas. Claro que não! Porque acessamos notícias na hora do intervalo, entre reuniões, no momento em que abrimos o computador, na hora do “descanso”. Assim, pelo contrário: o ruído do mundo entra com cada pessoa, cada login, cada reunião. E interfere diretamente na qualidade da nossa atenção, na segurança psicológica das equipes e na clareza com que tomamos decisões.
O caos deixou de ser um acidente e passou a ser o pano de fundo. A sobrecarga digital já não é um excesso pontual, mas uma constante silenciosa. Estamos permanentemente conectados, mas emocionalmente desligados. A cada notificação, nosso sistema nervoso é ativado, desviado, fragmentado. E a consequência disso é uma mente que já não consegue descansar, nem em casa, nem no trabalho.
As inteligências artificiais avançam com velocidade, e isso pode ser bom. Mas há um paradoxo que não podemos ignorar: quanto mais bacanas ficam os robôs, mais frágeis parecem se tornar as relações humanas. Não por falta de capacidade, mas por falta de tempo, presença, disponibilidade emocional. Estamos tentando ser eficientes como máquinas, quando o que nos diferencia é justamente o afeto, a escuta, o toque, a pausa.
O excesso de reuniões, nesse cenário, é quase um símbolo do nosso descompasso. Falamos o tempo todo, mas escutamos cada vez menos. Produzimos agendas, mas perdemos a espontaneidade. A fadiga social cresce, silenciosa, dentro de telas ligadas e corações exaustos. Esse é o novo burnout: não apenas físico ou mental, mas também relacional e existencial.
Reconhecer o caos é o primeiro passo para transformá-lo. Porque de onde ele atua, pode nascer o novo. E talvez o novo de que precisamos não seja mais uma ferramenta ou mais uma técnica, mas a coragem de fazer silêncio e escutar o que ainda pulsa por baixo de tudo.
Empatia em falta
É nesse cenário que surge uma constatação inquietante, que me ocorreu recentemente: talvez estejamos buscando empatia nas máquinas porque nos falta empatia real entre nós! Um recente artigo da Psychology Today compartilhou dados sobre a resposta emocional das pessoas ao receber empatia de IAs. E o resultado surpreende. Não pela precisão da IA, mas pela carência afetiva humana. Marcelo do Carmo Rodrigues, MSc e MA, meu parceiro na Conexão IE, escreveu há pouco sobre esse tema, no artigo “IE e IA de frente para outra”, em que discute como, no fundo, nos relacionamos com a IA a partir da mesma matriz: a necessidade de escuta, de sentido, de vínculo.
Todos queremos ser ouvidos. Todos desejamos produzir sentido a partir da troca. E se hoje nos sentimos mais acolhidos por uma resposta empática de IA do que por uma conversa humana, talvez isso não seja sobre a superioridade das máquinas, mas sobre o quanto estamos emocionalmente subnutridos. A boa notícia é que a empatia é treinável. A inteligência emocional é cultivável. E isso ainda depende de nós.
Cuidar da saúde mental não é apenas atender a normas técnicas. É reconhecer que performance sem presença não sustenta ninguém. É integrar o corpo ao ritmo do trabalho. É permitir que a espiritualidade, no seu sentido mais respeitoso e transcendental, tenha espaço para inspirar, acolher, regenerar. Espiritualidade no trabalho não é religião. É presença. É pausa. É cuidado. É silêncio. É também a prática de escuta, como fazemos no Reiki, onde a energia circula quando há espaço.
Sucesso não é mais sobre quem produz mais, mas sobre quem consegue se manter inteiro num mundo fragmentado. As lideranças que o futuro pede não são cobradoras, mas curadoras. E as culturas que permanecem não são as mais eficientes, mas as mais afetivamente sustentáveis. Quando escutamos o que ainda sussurra, descobrimos que há outra forma de estar, e de viver, no trabalho.