“Eu só quero saber o que pode dar certo, não tenho tempo a perder”. – Torquato Neto/Titãs
Por algum estranho motivo esse trecho da música Go Back, dos Titãs, vem sempre à minha mente quando o assunto é Otimismo. Essa é a competência de inteligência emocional que estamos abordando no mês de abril na Conexão IE e sei que a simples menção a “ver o lado bom das coisas” pode causar desconfiança ou até estranhamento nas pessoas. Afinal, se não queremos ver o copo meio vazio, tememos atitudes de imprudência, pressa ou ingenuidade que estão associadas a vê-lo meio cheio. Sei que é um assunto quase espinhoso, inclusive para mim, que adoro um lastro na realidade (tal como se apresente!) e para meus queridos clientes e leitores, cépticos como eu de abordagens esfuziantes. Mas vamos lá… sejamos otimistas. Ou vamos pelo menos examinar as vantagens em se ter esse olhar sobre as situações da vida.
A análise precisa ir mais longe e por isso vamos, sim, fazer desse limão uma limonada. A primeira confusão a eliminar é a diferença entre otimismo e positividade tóxica. Acho que fiz isso no último artigo “Como búfalos, não hienas”, quando falamos sobre coragem emocional e a força de encarar de frente as experiências emocionais. Todas elas, em especial as que nos estremecem e tiram o sono.
E dá para colocar mais coisas na conta. Então trago aqui um outro post que me deparei nessa semana, dessa vez a partir de uma postagem de Adam Grant, aquele autor do livro Originais. Ele explica que ser confiante não vem de apenas acreditar em si mesmo pelas habilidades atuais, mas sim pela percepção dos obstáculos superados do passado. Ao melhor estilo “pode estar difícil agora, mas sei que posso avançar porque já consegui outras vezes”.
Fonte: Traduzido por @conexão IE de @AdamMGrant
Então quer dizer que otimismo tem a ver com confiança? Sim e achei genial já que, ao contrário do que muitos pensam, otimismo não é apenas olhar de forma “esperançosa” para o futuro (até pode ser!) mas especialmente ser capaz de ver o próprio passado, as experiências vividas e considerar “se consegui lá, consigo de novo”. Um raciocínio que aproxima passado e futuro e projeta cenários em que o céu é o limite, como nos ensinou Frank Sinatra na inesquecível New York, New York.
Recordo-me uma vez que conversava sobre uma grande mudança enfrentada pela empresa de um cliente, que estava trazendo grande angústia e ansiedade para as lideranças. Ele contou o alívio que foi ouvir o diretor mais antigo do negócio, que havia sido questionado pelo silêncio em uma reunião crucial de enfrentamento de crise: “já passamos por dificuldades maiores antes, vocês não viveram a hiperinflação dos anos 80. Superamos lá, superaremos de novo”. A fala foi seguida por alguns suspiros na sala. Alguns ainda ficaram por ali, mas pouco mais foi dito depois disso. Sim, havia mudanças importantes a serem implantadas. Mas era preciso ser confiante em relação ao que o futuro reservava, considerando as forças que a empresa tinha para fazer frente aos desafios, o que justifica o otimismo ser também chamado de “visão positiva”.
Pois bem, então ao falarmos de otimismo não estamos defendendo um estado de animação emocional que não esteja ancorado na realidade, uma vez que como já dissemos a essência do otimista é justamente acreditar nas possibilidades que se avizinham, porém considerando suas próprias competências e o contexto, muitas vezes com a companhia de sentimentos como alegria, orgulho, coragem e esperança.
Quem fala sobre o valor das emoções positivas que impulsionam o otimismo é a autora Bárbara Fredrickson que, não se assustem os pragmáticos, escreveu um livro chamado Positividade. Ela tem uma teoria (broaden-and-build) que pode ser traduzida como de Ampliação e Evolução, que explica a possibilidade de uma espiral crescente de eventos a partir de uma leitura positiva da realidade. Algo que se pode praticar e aprender a fazer, como explica bem Seligman em seus estudos sobre o tema. Isso porque a mente ativada por exemplo pela curiosidade, outra emoção positiva, é capaz de “ver coisas” onde não havia absolutamente nada. Um efeito que chamamos de “ampliação do pensamento-ação”. Algo que se pode praticar e aprender a fazer, como explica bem Seligman em seus estudos sobre o tema.
A monja Elizabeth Mattis-Namgyel relata uma experiência que explica exatamente esse fenômeno, enquanto escalava as montanhas rochosas do Colorado. Em dado momento da escalada percebeu-se sem alternativas, pés sem apoio, mãos sem nada para agarrar no espaço subsequente, o que lhe ocasionou o início de um estado de pânico. Focando na respiração e tentando se acalmar, percebeu que seu corpo se adaptou ao contexto inusitado e, havendo dominado o medo, uma energia lhe renovou o espírito e ela pode finalmente VER saliências nas pedras e rotas de saída que antes não lhe pareciam visíveis.
Fechando essas conexões, é possível trazer até a perspectiva dos estoicos para compor nossa reflexão, seguindo a ideia de que o otimismo é uma escolha, uma espécie de atitude mental, que nos permite enfrentar os desafios da vida tais como se apresentam e não como gostaríamos que fossem. É uma crença aplicada de que, independentemente das circunstâncias, podemos encontrar meios de aprender com a experiência, sem sofrer por antecipação, mantendo a altivez.
“Sofre mais do que o necessário, quem sofre antes do necessário” – SÊNECA
Sêneca não diz para sempre olharmos apenas o copo meio cheio: devemos vislumbrar cenários com base no que conhecemos, sem de um lado sermos ingênuos e, de outro, sem projetarmos cenários catastróficos. Aliás, foi ele também que falou que sofremos muito mais em nossa imaginação que na realidade.
Juntando um pouco de cada ensinamento, dá para dizer que mais do que nas circunstâncias, ventos ou cenários favoráveis, os otimistas acreditam principalmente em suas próprias capacidades de aprendizado, adaptação e realização. Uma grande vantagem nisso, antes que eu esqueça, é o efeito de contágio aos que estão à sua volta, levando as pessoas a um estado de engajamento e colaboração, que pode fazer com que coisas inimagináveis se tornem realidade. Sim, inclusive no campo coletivo!
E quando os otimistas não conseguem o que almejam? Eles confiam em sua experiência, aprendem a partir de seus erros, descobrem e constroem novos caminhos, acreditando em um futuro que, embora desconheçam, imaginam que pode ser surpreendentemente encantador. E aí, bóra sermos mais otimistas?